Hoje vinha a caminho de casa e já em Benfica tive de fazer uma travagem brusca porque de repente alguém ia a atravessar a estrada e não era na passadeira.
Logo depois da travagem, vi que ele ia a olhar para o chão, com um ar cabisbaixo e perdido e acho que nem se tinha apercebido que estava de facto a atravessar uma estrada com muito movimento. Reconheci que era o Bruno. Já o conheço há alguns anos. O Bruno tem 34 anos, é arquitecto, é uma pessoa bem disposta e vive com a Ana há alguns anos.
Encostei o carro, abri a janela e chamei-o. Tive de o chamar várias vezes até ele me ouvir.
Quando chegou ao pé do meu carro, disse para ele entrar. Olhei para ele e vi que tinha os olhos vermelhos e um ar pesado e triste.
- Então Bruno! O que se passa? Atravessaste a estrada sem olhar e podias ter sido atropelado…
Ele fez silêncio e depois perguntou-me:
- Posso fumar um cigarro?
- Sim, claro que podes.
Ele acendeu o cigarro e continuou com um olhar vazio.
- Bruno, o que tens?
- Acabei de vir da gare do Oriente. A Ana foi-se embora para o Porto.
- Mas o que a Ana foi fazer para o Porto?
- Vai trabalhar para lá.
- Não precisas de ficar assim. São só 300 km.
- Mas não estás a perceber. Ela acabou tudo.
- Acabou?
- Sim.
- Mas porquê?
- Também gostava de entender. Só há 2 semanas é que me disse que ia para lá e que a nossa relação já não fazia sentido. Disse que já não sente o mesmo por mim e que agora como ia trabalhar para o Porto, sabia que a nossa relação não ia aguentar e que mais tarde ou mais cedo teria de acabar. Disse-me que não suporta a distância e que preferia sofrer agora a separação. Disse que odeia despedidas e que já estava a imaginar que mesmo que nos víssemos todos os fins-de-semana, depois tínhamos de despedir-nos, vermos o outro partir e aguentar mais uma semana e que não ia conseguir.
- Mas não se acaba assim um amor que já dura há tantos anos.
- Eu ainda não acredito nisto. Eu disse-lhe que tentava arranjar trabalho no Porto mas ela acha que não é assim tão fácil, que ainda demorava algum tempo e que não quer viver com os “se”. Pediu-me para aceitar a decisão dela pois era o melhor para os dois. Ela nem queria que eu a fosse levar à gare do Oriente, mas eu insisti. Ainda estou a ver a cara dela colada à janela do comboio a olhar para mim.
- Oh Bruno. Eu também não acredito no que me estás a contar. Vais ver que ela vai pensar melhor. Não pode acabar assim...
- A Ana é uma mulher decidida. Quando toma uma decisão, nunca volta atrás.
- Mas há decisões e decisões…
- Já me sinto tão perdido sem ela. Como é que vou chegar a casa e saber que ela não vai voltar? Como é que vou conseguir dormir, sem a ter ao meu lado? Ela é a pessoa que eu amo, com quero viver para sempre. Já a conheço tão bem e claro que ela tem os seus defeitos, mas nunca me impediu de ser feliz. E agora?
- Agora vais ter calma e não fiques a pensar que esta decisão é já definitiva.
- Eu só não a quero peder. Nunca vou conseguir gostar de outra pessoa, nem quero ficar como alguns colegas meus que andam na net a pôr perfis naqueles sites para conhecer pessoas, depois falam com elas no msn e acham aquilo muito engraçado. Depois conhecem-nas e só têm desilusões. E andam nisto, recomeçam e só conseguem sentir um grande vazio.
- Oh Bruno, olha o que já estás a imaginar. És mesmo maluco. Queres vir jantar a minha casa?
- Acho que não. Obrigada. Preciso de ficar sozinho. Tenho de pensar nisto tudo. Também tenho de acabar um projecto, mas não vou conseguir concentrar-me.
- Eu vou levar-te a casa. Já estamos perto.
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
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1 comentário:
História triste, muio triste, vieram as lágrimas aos meus olhos.
Porque será que a história do "Bruno" se está repitir tanto? Porque será????
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