domingo, 28 de julho de 2013

23



Esta não sou eu.
Não devia ter pintado as unhas de vermelho.
Olho para elas e sei que não sou eu.
No entanto ainda não tive coragem de tirar o verniz.
A dor alastra e já não sou capaz de fechar a porta.
Sou uma mulher livre e independente.
Ainda com um corpo de menina a envelhecer.
Não me reconheço.
O tempo não passa e já não consigo olhar para as horas no relógio porque elas avançam sem piedade e mostram-me o fim.
E volto a fechar a porta e deito-me.


Blonde Redhead - 23

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Be all be easy



Admiro alguns homens solteiros, separados e divorciados, solitários que se dedicam completamente aos filhos.
Admiro ainda mais quando estes dizem o que querem e vivem com esta verdade.

domingo, 14 de julho de 2013

Sensações CCCXXXIX


quarta-feira, 10 de julho de 2013

GMF I



- As pessoas não prestam.
- Porque dizes isso?
- As pessoas só pensam em dinheiro e sexo.
- Sim, a maioria. Mas ainda há pessoas boas e que têm outros valores.
- Essas já são raras.
- Pois, conheço uma meia dúzia de pessoas com quem me identifico.
- As pessoas são cada vez mais egoístas.
- Sim e não respeitam as outras.
- E magoam as poucas pessoas que são honestas.
- E andam em piloto automático. Erram consecutivamente e repetem os mesmos erros.
- E não param para pensar.
- Não confio nas pessoas.
- As pessoas têm medo de ficar sozinhas. E tu tens?
- Não gosto de estar sozinho. Preferia estar acompanhado. Mas por alguém que valha a pena.
- Acompanhado só para não estar sozinho é uma mentira.
- Sabes, o que ainda estragou mais isto tudo foi a internet.
- Sim, o virtual tornou tudo muito rápido e fácil.
- As pessoas não prestam.

domingo, 7 de julho de 2013

Sensações CCCXXXVIII



Morrissey & Siouxsie - Interlude

Quem sabe?

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Monotone



Ontem encontrei o Sr. Luís ao pé da máquina de café.
O Sr. Luís tem a tarefa de varrer o chão todos os dias à frente e atrás do edifício.
Contou-me que tem cinquenta e três anos e que trabalha desde os doze.
Disse-me que nunca teve férias.
Que não gosta de férias.
Disse-me que as férias só são boas para as pessoas que vão à terra ver a família.
No caso dele a sua família está em Lisboa e por isso não lhe interessa ter férias.
Perguntei-lhe quando é que ele descansa.
Ele respondeu que os fins-de-semana chegam para descansar.
E repetiu novamente:
- Não gosto de férias.

terça-feira, 2 de julho de 2013

La la love you



Ela gostava mais de escrever.
Ele gostava mais de falar.
Ele telefonava-lhe quase todas as noites.
No início ela estranhou.
Nem sequer gostava muito de telefones e achava que não tinha nada para dizer para além de que ao final de pouco tempo ao telefone ficava saturada.
A verdade é que ambos gostavam de falar um com o outro e passou a ser um hábito.
As vozes à noite são diferentes. Cansadas e calmas.
Contavam o que lhes apetecia.
As conversas eram sérias e divertidas também.
Acima de tudo as conversas tornaram-se longas, íntimas e cúmplices.
Era quase sempre ela que dizia que tinham de desligar quando olhava para o relógio e se surpreendia com as horas.
Mas ambos se sentiam próximos e adormeciam como se fosse ao lado um do outro.