terça-feira, 30 de setembro de 2008

Perfect skin

Fica fechado em casa. É como se sente melhor.
E escondido por detrás daquela janela, sente-se grande.
Veste a pele que mais lhe agrada no momento.
Uns dias mostra-se triste, noutros alegre, atrevido, insolente ou frio.
Um dia alguém há-de gostar dele e querer vê-lo.
Mas ele recusa-se a sair dali.
Atrás da janela não tem medo e sente-se protegido.
E só mostra palavras que desvendam aquilo que ele não é.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Às avessas

- Reparei agora que vesti as cuecas do avesso.
- Ah!
- Significa o quê?
- Que vais receber uma prenda.
- Isso é bom. Vamos ver...
- Sexual, claro.

domingo, 28 de setembro de 2008

Sensações LIV

Enquanto segurava o algodão doce, ele parecia que tinha o mundo na mão.
Um mundo cor-de-rosa cheio de sonhos bonitos.
E muito leve.

sábado, 27 de setembro de 2008

Sensações LIII



António Variações - Canção do engate

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Uma tasca e um jarro de vinho

Leio as tuas palavras com sofreguidão.
Transmitem-me calma e alegria.
Sabem a um mel que nunca provei.
Fazem-me sorrir com vontade.
São naturalmente genuínas e sem metáforas.
E fazem-me acreditar que a vida podia ser muito mais simples.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Corpo são

Ontem na aula de yoga, a professora deu um sábio conselho às alunas:
- Não deixem atrofiar nenhuma parte do vosso corpo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Thoughtless mind

A vontade que senti, foi permanecer em silêncio, sem me mexer. Todos os ruídos pareciam ter um som num volume excessivo.
Queria estar só comigo e ser egoísta.
Só me apetecia ficar com o pensamento vazio, sem me lembrar que não sei onde estás. Queria esquecer tudo.
Não devia pensar que estás triste e que sei que consigo fazer-te feliz por alguns momentos.
Não devia visualizar-me deitada ao teu lado, a ouvir a nossa música e a sentir o teu olhar de desejo.
Não devia imaginar, que agora, neste preciso momento, estás a pensar no mesmo que eu.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sensações LII



Tindersticks- Rented rooms

There's the same hotel, and we can go there now
We can go there now if you want to
Through the doors of that rented room
Yeah, we stumbled through
It was only hours
It seemed such a short while
We had no time to cry
Or sit and wonder why
We had so many things started to say
We had to get through
We tried the cinema
Within half an hour
We had to go find someplace else
Some more... you know
We tried a drinking bar
It gets so very hard
And when the cab ride ahead seems too long
We go fuck in the bathroom
We can't afford the time to sit and cry
Or to wonder why
We've got so many things started to say
We have to get through
Through the doors of that rented room
Yeah, we stumbled through
We had so many things started to say
We had to get through
We can't afford the time to sit and cry
Or to wonder why
We got so many things started to say
We have to get through
We haven't got the time for telling lies
Or to even try
There's only days in between
There's just tomorrow
Through the doors of that rented room
Yeah, we stumbled through
It was only hours - it seemed such a short while
In those pillows all the feathers that hold all our dreams
Whispered at the scene
Now they just seem to float on a breeze
I could have wrapped that pillow around my head
Face down on the bed
I could have drowned in those so-called dreams
We can't afford the time to sit and cry
Or to wonder why
There's only days in between
There's just tomorrow

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Porquê X

Quando os bonecos que está a ver na televisão abordam o tema "amor", ele quer tapar-me os olhos e os ouvidos.

domingo, 21 de setembro de 2008

Agora, agora...

Naquele momento, a dançar ao som de UHF, percebeu que a noite devia ficar por ali, quando perguntou ao ouvido do amigo:
- Gostavas de ser um cavalo de corrida?

sábado, 20 de setembro de 2008

Conversa de fim de verão a 3 mãos

- Aí chove?
- Não. Está sol. Porquê?
- Aqui pinga. O outono chega amanhã.
- Eu sei.
- Yeeeeeeeeeeees. Eu não sou mesmo nada do verão...
- Este verão foi fraco. Ainda devo ir à praia no Outono.
- No outono já gosto.
- Tu não gostas de areia
- Não tem pessoas e a areia molhada não voa.
- Também há areia no Outono.
- Pois, mas sossegadinha.
- Nos dias em que foste comigo até à praia, a areia estava sossegada. Não inventes.
- Estava cheia de pessoas. Não percebeste nada.
- O mundo tem pessoas,sabias?
- Eu sei. Mas não gosto de areia com multidões em cima.
- Tive uma ideia.Vou pôr este dialogo no meu blog. Posso?
- Sim, mas exijo direito de revisão prévia.
- :)
- Ainda por cima estou a escrever só com uma mão. A esquerda.
- Esta parte também vai ser publicada.
- Foda-se. Ao menos aqui sei que páras.
- Ficam a pensar o que estarás a fazer com a mão direita. Não páro nada.
- A segurar a cabeça, nabiça.
- Pois, pois. Que cabeça?
- E as pessoas não sabem se sou canhoto...
- Eu digo já aqui publicamente que não és canhoto.
- A que se segura com uma mão.
- Vou sair e depois publico. Um beijo.
- Beijo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Slow hands

Quando ouço Interpol, lembro-me dele.
O homem exteriormente mais bonito que conheci.
Vejo-o à minha frente com os seus dois metros.
Olha para mim de uma forma cruel e séria. Sinto-me mais pequena.
Despe-me mentalmente e depois tira-me a roupa.
O corpo dele, moreno e esguio. As mãos dele com uns dedos compridos e magros hipnotizam-me. As mãos são meigas e calmas.
Ele usa-me. Eu uso-o.
Nesse dia desperta-me de um sono prolongado. Foi bom e viciante.
Não me quer.
Não o quero.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mas ele um dia curvou-se a seus pés



Os Pontos Negros - Conto de Fadas de Sintra a Lisboa

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Flash I

Naquela fotografia estão dois amigos, com o rio por detrás.
Eles olham fixamente para um local. Um deles está a falar. Parece dizer “Mas já reparaste bem? Olha melhor.”
Têm um olhar calmo, inocente e sonhador. O tempo parou durante uns segundos. A máquina registou aquele momento que iria marcar as duas vidas para sempre.
A partir daí começaram a questionar tudo e prolongam até hoje grandes conversas filosóficas sobre o que viram naquele dia.
Mais ninguém sabe do que se trata. Só eles e o rio que os ouviu e guardou o segredo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sensações LI

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

the turn we took

- O que sentes por mim?
- Queres que te diga a verdade?
- Sim, claro.
- És-me indiferente.
- Não sentes nada por mim?
- És simpático. Não gosto de ti nem desgosto.
- Só isso?
- Sim.
- É duro ouvir isso. Parecia que gostavas de mim.
- Mas porquê? Estás apaixonado por mim?
- Não sei. Talvez…
- Eu avisei-te para não o fazeres.
- Isso é injusto. Quereres impedir-me de gostar de ti. Isso pode acontecer naturalmente.
- Mas eu não quero.
- Não queres o quê?
- Que te apaixones por mim. Não há espaço na minha vida para outra pessoa.
- Tu pareces um gajo. Estás fria. Tu não és assim. Porque estás a representar um papel que não é o teu?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sensações L



Andrew Bird - Measuring Cups

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Estado de hibernação

Apetece-me ficar nesta letargia, sem esperar nada e sem nada querer.
Não sei por quanto tempo.
Vou ler aqueles que sabem escrever.
Vou ler as viagens e os pensamentos.
Vou ler os sonhos de tantos homens.
Vou ouvir a música dos que cantam e acreditam no amor.
Vou ouvir a música melancólica.
E vou adormecer, até que um dia decida novamente despertar.
Ou não.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sensações XLIX



Mono - Life in Mono

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Imperturbável

Deixei de o ver. Imagino o que faz. Deve continuar solitário. Olha para as fotografias do passado e não pensa no futuro. De certa forma, acha que a vida já não tem qualquer interesse.
Os dias passam vagarosamente e não se sente mal nem bem.
Dorme muito mas não sonha.
Hoje quando acordou, depois de tomar o pequeno-almoço e o café, fumou um cigarro.
Com o primeiro cigarro matinal, pensa em milhares de pormenores e momentos que já viveu. Quando apaga o cigarro, todas essas memórias são esquecidas.
A partir daí tem uma certeza. Que o dia de hoje vai ser exactamente igual ao de ontem.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Conclusão XIV

Quando faço uma viagem de comboio, se decido ir ao wc, verifico que há sempre uma grande turbulência naquele exacto momento.

domingo, 7 de setembro de 2008

Sensações XLIX



sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sensações XLVIII



Philadelphia - Neil Young

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Gostava...

Quando vou aquele super-mercado está lá sempre o mesmo homem sentado no chão à entrada.
Uma das pernas dele tem a grossura do meu braço. Ele puxa as calças dessa perna para as pessoas verem. E fica ali o dia todo a pedir, mas em silêncio. Se alguém lhe dá comida ou uma moeda ele agradece.
Já o vejo ali há muito tempo e desde o início comecei a nutrir uma simpatia por ele.
Ele já conhece a minha cara e também acho que gosta de mim.
A ultima vez que fui lá, saí carregada com vários sacos e ainda antes de lhe dar uma moeda, ele perguntou-me se eu precisava de ajuda.
Eu agradeci-lhe e disse que não era necessário.
De vez em quando penso nele e tenho vontade de um dia o convidar para ir comigo a um café ali próximo.
Gostava muito de me sentar com ele a conversar. Gostava de conhecê-lo melhor e de saber como é a vida dele para além daquela que eu observo.
Qual será o nome dele?
Melhor seria se me sentasse no chão com ele ou se o convidasse para jantar em minha casa.
Curiosamente, o livro que acabei de ler e que adorei, “Mendigos e altivos” do Albert Cossery fala de vários mendigos, um deles bastante culto e sábio que diz que só os mendigos conseguem sentir a paz verdadeira.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Conclusão XIII

Os acontecimentos que mais me fizeram crescer como pessoa foram um nascimento e uma morte.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O primo Manuel

Era um homem muito inteligente. Foi casado com uma mulher forte e bonita. Tiveram três filhas. Perderam a do meio.
Era major, cheio de ideais. Foi professor de matemática e geografia. Foi também presidente da câmara do Entroncamento. Lutou pela liberdade e escreveu alguns livros de poesia. Eu tinha dois, mas não os encontro.
Em 1986, quando vim para Lisboa, tive o prazer de viver na casa dele e de conviver de perto com ele.
A última vez que o vi foi no meu casamento. Ele fez questão de cantar umas canções e animar a festa.

Eu acuso quem pensa sem agir.
Eu acuso quem age sem pensar.
Eu acuso quem fala sem sentir.
Eu acuso quem sente sem falar.

Acuso a posição mal definida,
o gesto mesquinho…
… e acuso-me por, nunca, em minha vida,
ter ido até ao fim do meu caminho.

E, amigos meus,
pronuncio a suprema acusação:
- Eu acuso… quem invocando Deus
ergue ao Diabo, altar, no coração.

Acuso o homem, por julgar o homem…
Juiz só Deus… entendo que é bastante.
Terminarei,
pedindo todas as sanções da lei,
para quem acusar o semelhante.

Manuel Pedroso Gonçalves, 1959