segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Better man

Às vezes ela odeia-o.
Escreve sempre as mesmas histórias em que ele se sente um predador.
Ela detesta ver que ele continua a sua vida naquele jogo.
Não suporta a ideia de um dia ele a ter conhecido.
Ele vende-se dia após dia, corpo atrás de corpo.
Olhares que o prendem e o desconhecido que o chama.
Depois acaba sempre da mesma forma.
Quando a conquista termina volta ao inicio.
Ela sente vontade de esbofeteá-lo.
Mas sabe que ele nunca vai despertar.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sensações CXXXV



Midlake - Acts of man

Gosto muito desta musica e as imagens do video são do filme "Sunrise - Murnau" que jamais esquecerei.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Buried bones

Finalmente sinto a idade que tenho. Percebo que me aproximo cada vez mais da realidade e fujo dos sonhos que me conduziam constantemente a uma ilusão pouco verdadeira.
Começo a dar mais valor a tudo o que tenho. Já não me apetece desejar o que não possuo e que cada vez mais acho impossível de alcançar.
Neste estado fico mais calma, provavelmente algumas vezes mais aborrecida também.
Continuo a precisar de algumas pessoas importantes para mim, da música e de livros.
Deixo de sentir o contentamento e euforia passageiros que me afastam da minha realidade com a qual pretendo viver.
E sinto que preciso de aprender muito sobre o mundo, as pessoas e a vida.
Sim, gostava de me livrar dos meus medos e das minhas perdas.
Sim, sinto medo de me tornar muito racional e de perder o brilho no olhar.

domingo, 22 de agosto de 2010

Se fosses capaz...



Muse - Undisclosed desires

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ready to start

Um dia vais perceber que a pessoa que imaginaste não existe.
Que tudo o que gostarias que ela fosse era um mito.
Um dia vais sentir um sentimento bonito em vez da paixão que tem sempre um fim.
Com o passar dos anos vais preferir a paz às emoções fortes e fugazes.
Um dia cansas-te e entendes que andaste tão longe da realidade.
Um dia desistes e encontras.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A minha casinha

Ela tinha vinte e dois anos e estava grávida da sua primeira filha
Às seis da manhã do dia treze de Agosto de mil novecentos e sessenta e oito romperam-se as águas.
Depois de tomar o pequeno-almoço calmamente, caminhou vários quilómetros a pé para chegar ao hospital e ter uma consulta com o seu médico.
Este disse-lhe para ela ir a casa, preparar-se e voltar para o hospital pois o bebé ainda nasceria nesse dia.
Ela voltou para casa e antes ainda fez um desvio no caminho para ir a casa da sua cunhada contar-lhe a novidade.
Como era esquisita com a comida, já tinha combinado com uma parteira que queria ter a filha em casa e não no hospital.
Passadas umas horas o parto iniciou-se e a parteira ajudou a menina a nascer.
O pai estava nervoso à espera na sala.
Finalmente a menina nasceu. A mãe, olhou para a filha e viu nela a cara do seu marido e pai da bebé.
E assim, às catorze horas nasceu naquela casa humilde que na frente tinha o rio Mondego e atrás a linha do comboio.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

We used to wait

Dantes olhávamos muitas vezes um para o outro. Conversávamos sobre tudo e nada.
Fazíamos passeios a pé todos os dias. Encontrávamos mais gente na rua e nos cafés.
Dantes riamos muito.
Dantes não tínhamos pressa.
Dantes escrevíamos cartas, postais e bilhetes.
Dantes ouvíamos o mesmo álbum vezes sem conta.
Dantes esperávamos e não custava nada. E sabia tão bem.
Dantes conhecíamo-nos devagar.
Dantes sabíamos quem éramos.
Dantes dávamos as mãos muitas vezes.
Dantes os nossos corpos eram quase intocáveis.
Dantes tentávamos adivinhar e sonhávamos com calma.
Dantes um beijo era melhor e mais longo.
Dantes não havia horas. Havia dias, meses e anos.
Dantes eu era feliz assim.



Arcade Fire - We used to wait

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

One I

Durante aqueles dias sonhámos o mesmo sonho.
Levaste-me a lugares onde eu pensava nunca mais voltar.
Proferimos palavras sentidas que pensava não voltar a dizer ou ouvir.
Desejei ficar contigo sem pensar nos porquês.
E desejei envelhecer ao teu lado.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tame

A solidão gosta dela.
Há hora de almoço faz-lhe sempre companhia.
Costuma dizer ao ouvido dela para olhar para os outros que estão acompanhados e que muitas vezes se sentam perto das duas sem as verem.
A solidão gosta de a tornar invisível. Também gosta de manipulá-la e de a tornar dependente dela.
A solidão gosta particularmente de a ver chegar a casa depois de uma noite divertida e abraçá-la.
A solidão detesta sentir-se ameaçada. Nessas alturas provoca-lhe medo e a mudez.
Ela fica sem palavras ou apetece-lhe fugir.
A solidão sorri.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sensações CXXXIV









E foi assim em Paredes de Coura...