segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O primo Manuel

Era um homem muito inteligente. Foi casado com uma mulher forte e bonita. Tiveram três filhas. Perderam a do meio.
Era major, cheio de ideais. Foi professor de matemática e geografia. Foi também presidente da câmara do Entroncamento. Lutou pela liberdade e escreveu alguns livros de poesia. Eu tinha dois, mas não os encontro.
Em 1986, quando vim para Lisboa, tive o prazer de viver na casa dele e de conviver de perto com ele.
A última vez que o vi foi no meu casamento. Ele fez questão de cantar umas canções e animar a festa.

Eu acuso quem pensa sem agir.
Eu acuso quem age sem pensar.
Eu acuso quem fala sem sentir.
Eu acuso quem sente sem falar.

Acuso a posição mal definida,
o gesto mesquinho…
… e acuso-me por, nunca, em minha vida,
ter ido até ao fim do meu caminho.

E, amigos meus,
pronuncio a suprema acusação:
- Eu acuso… quem invocando Deus
ergue ao Diabo, altar, no coração.

Acuso o homem, por julgar o homem…
Juiz só Deus… entendo que é bastante.
Terminarei,
pedindo todas as sanções da lei,
para quem acusar o semelhante.

Manuel Pedroso Gonçalves, 1959

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