sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Lembras-te?

- Não tens telemóvel? Não acredito! E agora como fazemos logo à noite. Vais ter comigo ao café e se te atrasas ou surge algum imprevisto?
- Vou estar lá à hora combinada, fica descansada. Se acontecer alguma coisa, ligo-te de algum lado.
- De uma cabine telefónica? Acho que já existem poucas.
- Mas que chata… Sou obrigado a ter telemóvel? Não gosto. Tive um e parti-o num dia de raiva. Prometi que não voltava a ter um.
- Pois, dantes eles não existiam e nós sobrevivíamos. Mas agora é estranho. Já não consigo viver sem ele. E os sms? Agora enviam-se sms por tudo e por nada. Já recebi declarações de amor por sms….
- Isso é ridículo.
- Pois, tens razão. Tens telefone fixo?
- Também não.
- Eu tenho mas raramente toca. Já ninguém liga para o telefone fixo. E lembras-te quando foi a ultima vez que escreveste uma carta?
- Já há alguns anos…
- Eu ainda guardo cartas que recebi. Era tão bom abrir a caixa do correio e ver um envelope endereçado a nós sem ser a conta da luz, água…
- Agora já ninguém escreve cartas.
- Até há dois anos atrás ainda escrevia cartões de Natal da Unicef à família e amigos, mesmo os que viviam em Lisboa. E lembras-te quando fomos para o sótão da casa dos meus pais ler as cartas que eles enviavam um ao outro quando o meu pai esteve na Guiné?
- Lembro-me. A tua mãe ficou furiosa…
- Qualquer dia vou escrever cartas aos amigos que perdi e dizer que ainda me lembro deles. O que achas?
- Acho bem!

1 comentário:

DeepDiver disse...

Há bocado,numa situação em que estavam comunicações internacionais a não funcionar, e havia técnicos a pesquizar as razões da falha, durante horas, com telefonemas em alta voz e chamadas laterais, "vamos falar novamente daqui a 5 minutos"... etc; ouvi num alta voz: "A comunicação tem dois sentidos".

Comentei "lá está o Lapalisse a falar outra vez".
Antes ele que o Murphy.

O primeiro por nos lembrar a realidade e o segundo por a tornar um desafio.

Mas foram muitas vozes muitas pessoas e às 18:00 as comunicações ficaram restabelecidas.

Essas sim, mas perguntei-me, têm dois sentidos?

Ou fazem sentido? Aqui e agora, não estou a falar para os peixinhos, nem a perguntar nada ao espelho. Estou a lembrar a mãozinha com o cigarrinho que recolheu.

Curioso! É a minha estreia num blog

Também gostava que fosse em papel, com a associação do toque, das coisas que guardamos duma forma ou de outra e ninguém gosta que lhe desarrumem ou mexam na cabeça-sótão.
Agora também não há facturas no correio... podem ser também por este meio digital.
Os amigos falam-se, brincam choram, estmos com eles no bem e no mal. Somos também nós e algum vazio de nós em que eles entram ou não entram.
Deixa-me lembrar a quantidade de SMSs no Natal, no fim de ano, na páscoa, no aniversário da Madre Teresa de Cálcuta, etc.

... sabes o que eu acho, sobre o "escrever cartas aos amigos que perdi e dizer que ainda me lembro deles"

Acho mal por aí. Quem perdeu quem?

O vazio está em nós, não na falta de amigos. Se estão "perdidos?"

Não compres cartões a Unicef, envia só o donativo.

Escreve uma carta para uma pessoa que gostes e não tenha telemóvel nem fixo, ou preferenciavelmente, vai ter com ela e descobre o prazer de a tornar a ver, mesmo que a recepção seja de encontrares outro desconhecido, vais-te descobrindo e encontrando espaço para ti.

Para ti, minha querida mãozinha.