terça-feira, 24 de abril de 2007

Sou eu, és tu, somos nós

Naquela noite de 24 de Abril de 1974, o avô foi deitar-se e ligou a telefonia na Rádio Renascença, como era hábito fazer todos os dias. À meia-noite e vinte do dia 25 de Abril, começou a tocar “Grândola, vila morena”. Esta era a segunda senha para a nossa Liberdade.
Na manhã de 25 de Abril, os pais da menina de cinco anos foram levá-la ao Jardim-escola João de Deus. Passadas duas horas foram buscá-la e voltaram para casa. Havia uma revolução. Não sabiam o que podia acontecer.
A menina de cinco anos, no dia 1 de Maio, lembra-se de percorrer as ruas da cidade às cavalitas do pai com um cravo vermelho na mão. As ruas estavam cheias de gente que gritavam com entusiasmo “O povo unido jamais será vencido”.
O pai da menina de cinco anos ofereceu-lhe um vinil com uma canção da Ermelinda Duarte. A menina decorou a letra rapidamente e a partir daí quando a família se reunia com os avós, tios e primos, ela subia ao seu palco e cantava com alegria:

"Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos do rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que,
à força,ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás."

Somos livres – Ermelinda Duarte

5 comentários:

AP disse...

"A cantiga é uma arma
contra a burguesia
tudo depende da bala
e da pontaria
Tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
contra a burguesia" ;)

Rui disse...

Entao mas a personalidade escolhida nao foi o Salazar? Ha qq coisa q nao bate certo nisto tudo...

Tindergirl disse...

Eu não participei nessa votação e muito menos para esse resultado. E tu?

Rui disse...

tambem nao, senao se calhar o salazar ganhava por mais!

Anónimo disse...

Conversa de comboio entre 2 pessoas em que as idades se situam entre 40/50 anos.

"Nos precisávamos era de outro Salazar para ver se acabava esta pouca-vergonha toda, o governo não faz nada são uma cambada de ladroes, no tempo dele é que era bom...".
Bem a conversa continuou por mais uns minutos, uma senhora que devia ter mais de 70 anos ao sair do comboio interpelou as duas pessoas e disse: "eu na altura desse senhor tinha que me levantar as 5 da manha andava 10 km para ir para uma fila para conseguir senhas para poder comer e perdi um filho na guerra".
A minha opinião é que o cansaço ou angústia da situação económica, financeira, cultural etc. em que nos encontramos não é razão para pensar que um regime de ditadura era a solução para os nossos problemas.

Pedro R.