- Posso ir lá fora um bocadinho?
- Claro que não. Não pode sair daqui enquanto a médica não lhe der alta.
- Alta? Mas eu estou internada?
- Para todos os efeitos está. Tem de esperar pela médica e pelo resultado dos exames.
- Sim, mas eu ia só lá fora e voltava.
- Fique deitadinha, quietinha e sossegadinha.
Com tantos diminutivos, ela ainda se sentiu mais presa e a sufocar.
Deitada olhava para cima e lia: oxigénio, vácuo e ar respirável.
Pois era mesmo isso que eu precisava. De ir lá fora respirar ar respirável, talvez com alguma poluição, mas sempre era melhor que estar aqui a olhar para estas paredes brancas, os ponteiros daquele relógio branco que parecem que não se mexem e todos estes aparelhos que me rodeiam. Lá está a enfermeira a olhar para mim pelo canto do olho. Está ali no computador, a carregar no rato. Aposto que está a jogar o solitário.
Eu quero é fugir.
- Posso ir à casa de banho?
- Mas sente-se bem para se levantar?
- Sim, sinto. Onde é a casa de banho?
- Eu levo-a lá. É aqui.
- Obrigada.
Finalmente, esta é a minha oportunidade para pensar numa fuga.
O que é isto? A porta não tranca? Porra, eles pensam em tudo.
Assim nem posso estar à vontade. Pode entrar aqui alguém.
Vou espreitar para ver se a enfermeira está lá fora.
Pois, lá está ela com o seu rabo grande.
Vou esperar mais um bocado.
Ah, estou a ouvir vozes. Vou espreitar outra vez.
A porta abriu-se.
- Desculpe. Não sabia que estava ocupada.
- Pois, estava. A porta não fecha.
- A menina já estava de saída. Venha lá comigo.
Lá vou eu outra vez. E a médica nunca mais chega.
E se ela disser que eu tenho de ficar aqui? Não posso. Tenho tantas coisas para fazer.
É mesmo impossível. Não posso.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário