quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O despertar

Acordou naquele momento em que já não é noite e ainda não é dia.
Acordou dos sonhos obscuros e cheios de segredos do subconsciente.
Abriu os olhos e deixou-se ficar colado à cama. Lembrou-se quem era e da vida que tinha.
Continuava a debater-se com o seu eu, de que não gostava. Não conseguia adaptar-se ao mundo em que vivia.
Já tinha pensado em deixar tudo. Vendia a casa e o carro. Deixava a cidade, o emprego, a família e os amigos.
Já imaginou ir para um país longínquo, levar o pouco dinheiro que tinha e começar do zero. Gostava de aprender com um povo mais espiritual e deixar esta sociedade materialista.
Sentimentalmente, não se sentia preso a ninguém. Não tinha nenhum compromisso. Tinha apenas uma lista de mulheres, que foi coleccionando ao longo dos anos. Nunca amou. Nunca sentiu vontade de ficar com uma mulher para sempre. Teve umas paixões mas duraram pouco. Ao fim de algum tempo, aborrecia-se e já nada fazia sentido.
A família que tinha era o pai e os irmãos. Via-os poucas vezes. Não existia um elo de ligação forte entre eles. Todos viviam e sobreviviam à sua maneira. Era muito apegado à mãe, mas ela já tinha morrido há 5 anos e já se tinha habituado à sua ausência.
Continuava a ir pôr flores regularmente ao cemitério e falava sozinho sentado ao lado da campa. Já lhe tinha contado que um dia se ia embora. Pensou que a mãe ia compreender. Ele sempre foi o filho mais estranho, diferente e sensível.
Começou a ouvir alguns pássaros a cantar no parque ao pé da sua casa. Amanheceu.
O momento mágico entre a noite e o dia, acabou.

2 comentários:

Rui disse...

nao te preocupes... é só o lusco-fusco:P

Tindergirl disse...

E os gatos são pardos :)