terça-feira, 21 de abril de 2009

I was young when i left home

Adoro sótãos. A minha adolescência e juventude ficou ligada a um sótão.
Subia umas escadas bonitas de madeira. Em frente era o meu quarto. Do lado esquerdo era uma divisão pequena onde a minha mãe passava a roupa a ferro e costurava na máquina de costurar que lá estava.
Do lado direito era o sótão com as telhas e tínhamos de andar lá baixados. Esse sótão sempre teve algum mistério pelas coisas que estavam lá guardadas. Eram livros, cadernos, desenhos da escola primária, revistas antigas, postais, jogos, trapos, umas gaiolas de umas rolas que existiram em tempos e segredos e muito pó.
Uma mala cheia de cartas de amor que a minha mãe e o meu pai trocaram quando ele esteve na Guiné.
Será que o amor e muitos sonhos cabem dentro de uma mala?
O meu quarto era comprido, com uma alcatifa azul no chão e as paredes de corticite.
Ao fundo estava a cama de madeira clara de pinho. Mais ao meio estava a escrivaninha onde estudei muitos anos, que tinha prateleiras em cima com livros.
Do lado contrário estava um guarda-roupa e na extremidade contrária do quarto estavam dois sofás pequenos ( que a minha mãe chamava de senhorinhas), uma arca com enxoval oferecido pela avó e tias e uma mesa com o meu gira-discos.
Aí havia uma janela pequena que dava para o telhado e de onde podia avistar parte da cidade, o rio Mondego e a ponte.
Passei muito tempo neste quarto, em que me sentia independente e era o meu refúgio.
Lembro-me de muitas coisas. Muitas horas a estudar, a ler livros de aventuras, a ficar em pânico quando a minha irmã com três anos partiu a cabeça por ir a correr e bater com a cabeça na mesa-de-cabeceira.
Lembro-me de estar a estudar e haver um sismo e ver os bibelots nas prateleiras a abanar.
Lembro-me de ouvir muita música, escrever no meu diário, dançar um slow pela primeira vez com o meu melhor amigo de infância.
Lembro-me de querer ser crescida e adulta e do tempo passar muito devagar.
Lembro-me dos meus sonhos e revoltas de adolescente.
E acima de tudo, lembro-me de ter uma bonita família e ser feliz.

5 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo teu blog! Forte e sentido.

João Miguel

Pedro Ribeiro disse...

Minha amiga - lembro-me ainda de te ver descer aquelas escadas depois de um período longo de ausência - tu em Lx eu em Coimbra - a surpresa de te ver tão diferente, tão viva, tão sofisticada, tão alegre e feliz! Vinhas a descer desse mesmo sótão e desse mesmo quarto onde te tinhas estado a alindar para sairmos à noite: a primeira depois de uma temporada fora (e mesmo assim só saías porque era comigo senão ficavas em casa!!! mesmo depois de estares a viver tão longe tão independente). Bons tempos. Lembra-me o slow era o How deep is your love não era?

Tindergirl disse...

É verdade. O Afonso só confiava a filha a ti :)
Mas não acertaste na música.
Era Woman :D

Linhas disse...

Xiii, há tanto tempo que não vinha aqui... e como gosto sempre tanto de vir!!!
Xiii, como me lembro destas coisas... daquelas escadas, do sótão... das confidências e das saídas á noite... e de tantas outras coisa boas!!!! Que saudades!!!

Tindergirl disse...

Pois foi. Que bom :)
Obrigada!