quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Gingão gingão

O Zé Manel prepara-se para sair de casa. Sai todas as noites. É um homem solitário.
Toma banho e perfuma-se bem. Gosta de deixar o seu rasto perfumado pelas ruas de Lisboa. Veste sempre uma camisa preta e aquelas botas bicudas que tanto gosta.
Olha bem para o espelho, sorri e sai de casa.
Vai jantar sempre à mesma tasca. Come, bebe vinho e olha para a televisão. Na realidade ele nem vê nada porque só pensa na noite que se aproxima.
Dirige-se para o bar onde costuma ir todos as noites. Entra e pede uma imperial. Fica voltado para a porta a ver as pessoas a entrarem. O seu olhar vai para as raparigas. Bonitas e feias, olha para elas bem de frente com aquele olhar penetrante e sedutor.
Por vezes, quando alguma passa perto ele diz-lhes um piropo quase ao ouvido.
Elas nem olham para ele ou então riem-se e afastam-se.
Nessa noite, naquele mesmo bar viu entrar uma rapariga de cabelo preto brilhante e olhos verdes. Logo naquele momento apaixonou-se e pensou que ela era a mulher da sua vida. Saiu do bar e comprou uma rosa a um indiano. Chegou ao pé dela e enquanto lhe estendia a rosa, disse-lhe:
- Eu sou o Zé Manel. Fica comigo. Eu sou teu.
Ela olhou para ele, agarrou na rosa, bateu-lhe com ela na cabeça e disse-lhe:
- Jamais queria ter uma coisa assim. Já te viste ao espelho?
Ele ficou desolado e confuso.
Não entende bem as mulheres e as suas reacções. Desde sempre que a sua mãe lhe diz:
- Zé Manel, meu querido filho és tão bonito.
O Zé Manel volta sempre para casa sozinho mas nunca perde a esperança e na noite seguinte pensa sempre:
Esta noite é que é.

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