sexta-feira, 26 de março de 2010

Só para matar o tempo

A D. Olinda tem setenta e dois anos. Vive sozinha no rés do chão de um prédio com o seu gato capado Rom Rom.
É uma parteira reformada. Trabalhou a vida toda na Maternidade Alfredo da Costa e ajudou a nascer uma parte da população de Lisboa.
A D. Olinda nunca casou nem teve filhos. Foi uma moça bonita cheia de pretendentes mas nunca lhes ligou porque na verdade nunca conseguiu amar nenhum.
Todas as manhãs, depois de acordar, a D. Olinda toma o pequeno-almoço, põe-se bonita, pinta os lábios e sai de casa.
Vai passear pela Estrada de Benfica onde bebe um café, compra o pão na padaria e às vezes passa também pela mercearia.
Pára sempre nas Modas Coelho para ver a montra. Gosta mesmo daquelas roupas de senhora em tons de roxo ou lilás. Por vezes perde a cabeça e compra uma saia ou camisola nesses tons.
Volta para casa e começa a fazer o seu almoço. Depois de almoço, vai regar as plantas que estão no hall da entrada do prédio e fala com elas. Diz-lhes muitas vezes:
- Coitadinhas das minhas meninas. Se eu não tratar de vocês mais ninguém o faz.
Volta para casa e senta-se no sofá a ver o programa da Julia Pinheiro ou então põe um disco do António Calvário. Gosta em particular das musicas Chorona em que imagina como teria sido a sua vida se um dia tivesse amado ou a Mocidade em que recorda os tempos em que foi jovem.
Às quatro e meia da tarde volta a pintar os lábios e sai de casa para ir à missa das cinco na Igreja de Benfica. Gosta de ir com algum tempo de antecedência para arranjar um bom lugar lá à frente para poder ver bem o padre novo que acha muito engraçado.
Reza e canta e sai sempre da missa muito contente. Volta para casa e pensa o que há-de fazer para o jantar. Toma banho. Gosta de tomar o seu banho diário ao fim da tarde.
A seguir veste o seu pijama e o robe. Faz o jantar e janta cedo.
Lava a loiça e senta-se no sofá a ver o telejornal. O gato Rom Rom depois de comer os restos do jantar enrosca-se no colo dela.
Depois é a hora da telenovela da tvi. Nessa altura a D. Olinda gosta de comer três bombons de chocolate. Os seus olhos começam a piscar e por fim adormece.
Normalmente acorda umas duas horas depois e arrasta o seu corpo em direcção ao quarto.
O gato Rom Rom segue-a, pula para a cama e deita-se aos seus pés.

2 comentários:

Anónimo disse...

"...O seu nome é Deolinda e tem idade suficiente para saber que a vida não é tão fácil como parece, solteira de amores, casada com desamores, natural de Lisboa, habita um rés-do-chão algures nos subúrbios da capital. Compõe as suas canções a olhar por entre as cortinas da janela, inspirada pelos discos de grafonola da avó e pela vida dos vizinhos. Vive com 2 gatos e um peixinho vermelho..."

Este teu post cheira-me ou a plágio, a uma daquelas sequelas Hollwoodescas...mas se o meu palpite estiver certo revela bom gosto musical :)

Rael

Tindergirl disse...

Gosto de Deolinda mas quando escrevi este post nem me lembrava dessa musica :)