Naquele sábado saí de casa para ir à praia. Ao descer os dois lances de escadas encontrei a D. Olinda parada no rés-do-chão entre a porta dela e a porta do Sr. José.
- Oh menina. O Sr. José morreu.
Fiquei sem fala enquanto me apercebi do choro que vinha da casa dele. Arrepiei-me e quis fugir.
- Foi mesmo agora no hospital. Eu já chorei mas não posso porque fui operada às cataratas.
Também foi a D. Olinda que me deu a triste notícia há um mês atrás do cancro nos pulmões que foi diagnosticado ao Sr. José.
Enquanto conduzi até à praia com o coração pesado, pensei naquela família bonita.
O Sr. José, o meu vizinho de baixo, um senhor nascido em Cabo Verde, casado, tinha três filhas e muitos netos. Vivia com a mulher, uma filha, um genro e um neto.
A casa dele era uma casa sempre cheia de família, o barulho dos netos a rirem e a correr onde reinava a alegria.
Era com frequência que ouvia cantar os parabéns numa noite qualquer de um mês qualquer.
Por vezes também acordava a ouvir uma morna.
Não sei que idade o Sr. José tinha. Ainda parecia novo. Cumprimentava-me sempre de uma forma educada e com um sorriso.
Pensei na mulher, nas filhas e nos netos. As filhas, com idades entre os trinta e quarenta anos. Os netos com várias idades dos dois aos treze talvez.
Perderam o avô. É tão bom ter um avô.
E as filhas. Perderam o pai.
No dia seguinte comprei flores com umas palavras sentidas escritas num cartão e toquei à campainha. Foi uma das filhas que abracei.
Chorámos porque ambas sentimos a mesma dor.
Os pais, as mães, os filhos, os irmãos, irmãs, avós não deviam morrer.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
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