sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A vida sempre tem razão e a gente também. Eu sei lá!!!

Esta semana encontrei um texto guardado no disco do meu computador. Um texto que já não me lembrava que possuía. Também não sei quem foi o autor. Mas gostei tanto de relê-lo que me apeteceu publicar aqui. Peço desculpa ao autor mas é bonito demais para ficar esquecido.Obrigada!


“Quero mudar de cidade.
Mudar para mim.
Sim, penso que é isso mesmo, sair de casa, abandonar estas ruas que conheço de cor, ter minha vida, ter alguém. SER!
Ainda assim, apesar da luz, do deslumbre deste brilho, apesar da tranquilidade das rotinas diárias, dos cantos que sei de cor, das calçadas, das vielas, das ruas que conheço desde menino, sair desta cidade que gosto, que me mima em cada recanto, que ainda me embala, é encarar o futuro, encarar-me, sentir os meus limites, conhecê-los.
Misturar-me por aí numa cidade, uma qualquer dessas cidades cosmopolitas, virada para esta orla meridional, perto do mediterrâneo, onde o anonimato garante a felicidade única de nos tornarmos transparentes, omniscientes, omnipresentes, pairar com a alma por ali, em cada interstício, cada viela, cada rua e avenida, sem ser vistos, no meio da mole humana, por entre uma multidão que desconheça...
Casinha simples, talvez até apartamento, luminoso, banhado por uma luz mediterrânica, meridional, talvez com sobrado, que pintarei de branco imaculado, o meu céu, onde andarei, despido, adejarei...
Não preciso de piscina, talvez uma grande banheira antiga, talvez apenas uma tomada de água numa parede, coisa simples, que me limpe as agonias, que me lave os pecados, que me deixe a alma como ela era...como quase é! Que me faça sentir na pele as gotas como bátegas de chuva, que me acaricie o corpo, que me abrace num longo enleio tépido no inverno, fresco nas cálidas noites de verão.
Talvez, um apartamento lá no alto, de um prédio pequeno, que disponha de uma varanda generosa, ou melhor ainda, um simpático terraço, que será o meu jardim, para eu poder apanhar chuva quando quiser ou mesmo um banho de mangueira. Qualquer sítio onde possa ter hortelã, rosmaninho, salsa... pouco mais que um canteiro ou dois, onde na primavera eu veja flores de todas as cores, e lhes possa dizer olá pela manhã. Adormecer por entre as velas à noite, velando por um amanhã sereno.
Terei um cão, um digno sucessor deste amigo incondicional de hoje, talvez com um nome de algum personagem dos desenhos animados que eu via na infância, algo que me recorde a ingenuidade da minha infância longa, já que fui menino velho talvez agora me torne um velho menino..
Levarei talvez os meus cd's, os meus vídeos, ainda os discos de vinil, manterei o meu gira-discos, as estantes vão continuar anarquicamente cheias. De memórias, de pó, de vida e até de livros inclusive, muitos, infinitos, muito mais dos que agora convivem comigo nesta existência que se arrasta... muitos, tantos que não sei se lerei, na íntegra, sequer metade, mas vou ficar feliz em tê-los lá, de vê-los sempre e poder sentir-me completo e cercada de palavras. Falarei com eles, trocaremos argumentos, cumplicidades, sorrisos e esgares, discussões inférteis, argumentos, réplicas e tréplicas, adormeceremos juntos, acordaremos com o hálito seco de tanto falar em silêncio.
Sofás antigos e, no entanto, confortáveis, antigos, fundos e fofos. Usados, gastos e funcionais... anatomicamente estudados pelos anos de sonhos, de sono, de envolvência subtil, de amizade, de protecção, daquela que só os sofás sabem dar. Cobertores e mantas vão coabitar por ali com as almofadas, sem pedir licença… Amigos, sempre amigos, nos sofás, sempre...sempre... Sempre!
No centro uma mesa ampla, gasta, de madeira gasta, com os sulcos da experiência de grandes reuniões gastronómicas, de degustação de vinhos velhos, de água ciosa de ser bebida... na sede do culminar de uma longa jornada, de decisões de vida.
Na mesa pão, pão escuro, com côdea dura lambida pelo fogo a lenha, aberto à mão, à espera do queijo.
Nas janelas só um tule, quase névoa de tão fino, esvoaçante sem cor de tão vaporoso, quase se vai adivinhar... só se sentindo a sua carícia ao passar... como o ar.
No frigorífico não quero cerveja, apenas chá gelado com limão. Duas taças bem grandes de champanhe talvez... algum vinho, vegetais e pouco mais que a existência permita.
À volta da mesa quero cadeiras, com história todas elas, pois claro, umas velhas, outras novas, que arranjarei por aí… uma de cabaret, outra império, uma gaivota, uma de três pés, uma de balanço… sei lá!
Uma colecção de havaianas que vão estar sempre espalhadas pela casa, por baixo na cama, do sofá. Eu vou andar afinal sempre descalço. Os móveis de madeira vão ser brancos, usados e velhos. Alguns vão ser orientais com as cores originais. Uma viola, porque eu vou continuar com a promessa de um dia aprender tocar e também porque sempre haverá alguém para a tocar.
Até quando pensar que não quero gente em casa ela terá gente. Algumas pessoas terão a chave, virão quando quiserem e quando não quiserem também.
Quero a minha vida de volta, agora estou a vê-la, bem longe, quase impossível de retomar. Estarei a desistir!?
Também já não consigo saber se ela vai demorar a voltar, essa vida, a minha, que conquistei, se regressará. Alguém disse-me recentemente que a vida sempre volta, nunca demora, e que não contrariarei a minha natureza.
Este ano está quase a acabar, para o ano será outro, 2009, sou quase abstémio, preciso de amigos para beber, será que terei mais bebidas e menos amores efémeros!?. Talvez já terei um ou uns amores, eles não precisam começar exactamente agora, provavelmente já os tenho, já os sinto. Ela deve estar lá na Ásia, quem sabe na Oceânia... Um dia chegará sem avisar. E se quiser pode ficar, pode estar aqui também comigo, partilhar.
Uma amiga minha dizia-me que sempre acreditou que só existisse um amor, o amor da nossa vida, mas que nunca se havia enganado tanto… que não, há muitos amores na nossa vida!
Dizia que não era assim tão fácil amar de forma pura, incondicional, perdida entre o céu e a terra e o mar. Que afinal não há tantos amores. Apenas os nossos, que nos completam, que nos fazem crescer. Um no sul, pelo sol, um na Suíça talvez pelo frio, um algures na América do Sul pela raça, um aqui bem ao lado, em Espanha, eles estão por aí.
Eu dizia que tinha uns por aqui, uns tão perto dos outros. Tão longe que não os conheço mais...
Em algumas épocas, um desses amores, dói-me mais que os outros, mas às vezes depois torna-se o que menos dói.
A mesma amiga repetia-me «Todo o amor só é bem grande se for triste, deixa doer». E, eu deixo. Até choro, sempre que me dá vontade, não me poupo. Às vezes até me forço ao choro, leio coisas antigas que escrevi, vejo fotos, entro na nostalgia, na melancolia, mas não me abandono… porque preciso de viver. Mesmo assim vasculho vazios para não perder quem já foi um dia, um mês, uma vida. Quero ter presente todas as pessoas até ao último instante, tenho medo de me perder pelo meio do caminho, até mesmo o que doeu. Quero recordar. Até mesmo, e até mais o que dói. Essas são as nossas certezas na vida, o contacto com a realidade.
Afinal, talvez não mude de cidade, Lisboa serve, tenho a luz, o casario e uma multidão que desconheço… vou explorar os recantos de Lisboa, as colinas, o porto, os bairros, o castelo.
Misturar-me por ai!
A vida sempre tem razão, e a gente também. Eu sei lá!!!”

Autor desconhecido (que gostava que aparecesse)

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