segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

O bairro do amor

No bairro onde vivo não há grandes luxos. Há mães, pais, crianças e muitos avós. Também há muitos cães que passeiam logo de manhã com os donos enquanto os pássaros cantam no parque que também tem alguns eucaliptos.
Há pessoas que correm para apanhar o autocarro. Algumas param nos cafés do bairro por uns minutos. Outras já de mais idade vão logo à padaria e à mercearia.
Há uma senhora de cabelo branco e de roupão vestido que está sempre à janela no r/ch do prédio em frente ao meu e quando saio com o meu carro da praceta, ela faz-me sinal a dizer se posso entrar na estrada.
A Tasca do Sr. Miguel também abre cedo e este começa a fazer os seus petiscos e cozinhados para o almoço e diz-me sempre adeus quando me vê sair de casa.
O Sr. Manuel, está à porta do café a fumar um cigarro e também me cumprimenta e sorri.
Costumo também encontrar um senhor que me diz sempre “Bom dia”, que vai dar os seus passeios com o neto de três anos e parece feliz.
Conheço a maioria das pessoas do meu prédio. É um prédio envelhecido mas com pessoas bonitas que se cruzam nas escadas, elevadores. Muitas sabem o nome das outras e perguntam pela família.
O Sr. Simões, farmacêutico reformado dá o seu passeio matinal com os seus amigos e a D. Olinda sai de casa para regar as plantas do hall do prédio ou para ir à missa.
Há um casal de velhinhos que saem sempre de braço dado e ainda se olham com ternura.
Sente-se a paz e a harmonia, por isso gosto tanto de viver neste bairro.


"No bairro do amor o tempo morre devagar
num cachimbo a rodar de mão em mão
no bairro do amor há quem pergunte a sorrir
será que ainda ca estamos no fim do Verão

Eh pá, deixa-me abrir contigo
desabafar contigo
falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
descontrair um pouco
eu sei que tu compreendes bem

No bairro do amor a vida corre sempre igual
de café em café, de bar em bar
no bairro do amor o sol parece maior
e há ondas de ternura em cada olhar

O bairro do amor é uma zona marginal
onde não hã prisões nem hospitais
no bairro do amor cada um tem de tratar
das suas nódoas negras sentimentais

Eh pá, deixa-me abrir contigo
desabafar contigo
falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
descontrair um pouco
eu sei que tu compreendes bem"

Jorge Palma

1 comentário:

Lugus disse...

Os nossos bairros, quando vividos e não só habitados, têm sempre um encanto muito deles, que é muito nosso. Basta ter alma de sentir e olhos de ver. Gostei desta descrição serena e amiga do teu bairro