Estava a lembrar-me daquelas manhãs de domingo em que me acordavas e levantavas os estores do quarto e colocavas as tuas músicas num som bem alto. Como eu ficava irritada…
Estava a lembrar-me, quando te levantavas de madrugada para ires trabalhar e ouvia o barulho da colher a mexer o teu café com leite. Depois ouvia os teus passos a descer as escadas e o barulho da carrinha a partir.
Estava a lembrar-me dos nossos passeios pela serra e de como a conhecias tão bem.
Estava a lembrar-me, como tu gostavas que nós víssemos contigo os vídeo dos Abba. Adoravas a Chiquitita, mesmo sem perceberes bem o que significava.
Estava a lembrar-me, quando ligaste para a rádio local a pedir para ouvir Enola Gay.
Estava a lembrar-me daquela música do assobio que ouvimos tantas vezes.
Estava a lembrar-me das colecções de vinil que compravas.
Estava a lembrar-me de ti e do vazio que existe sem ti.
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
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1 comentário:
De como mandavas calar toda a gente à hora do telejornal.
Daquelas bolachas enormes que tu adoravas molhar no café com leite e que a mãe comprava na manutenção militar.
Das pratadas de bacalhau com grão que pareciam montanhas ao almoço de sábado. E de não deixares ninguém comer uma tangerina enquanto não acabásses a refeição.
De me sentares ao teu colo e confiares-me o volante da carrinha para as mãos, enquanto eu passava razias aos ciclistas pelo caminho.
Das histórias que inventavas que metiam sempre montes de animais a passear pela floresta a caminho de algum lado.
Daquela vez, por altura da queima das fitas, em que fomos à praia de manhã cedo e apanhámos um peixe ferido e perdido que baptizámos de "garraio". Levámo-lo para casa num balde e tu comeste-o assado ao almoço, e eu fiquei triste.
Daquelas viagens de carro ao som da tua gigliola e de outros italianos dos anos 60. Ou da "bola branca" na viagem de regresso com os relatos e os resultados dos jogos e equipas da 2ª divisão e até das distritais.
De como gostavas de puxar as orelhas ao pobre cão que tb te achava pai dele.
De tudo ou quase. Sempre ou enquanto tiver memória.
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