Hoje ao fim da tarde encontrei a D.Olinda no hall do prédio. Acho que já sinto algum receio de a encontrar.
Disse-me:
- Olá menina. O Sr. Simões já foi…
- Olá D. Olinda. Não percebi.
- Disse que o Sr. Simões já foi.
- Foi onde?
- Menina, morreu. Não sabia?
-
- Já vi que não sabia. Foi já há quinze dias.
- Não sabia. Ninguém me disse. O Sr. Simões…
- Pois foi. Estão todos a morrer neste prédio. Temos de mandar benzer o prédio. E a próxima sou eu menina. Sou a mais velha.
O Sr. Simões vivia no segundo andar direito. Foi farmacêutico e já estava reformado há vários anos. Vivia sozinho. Parece que tinha uma filha advogada por quem ele sentia muito orgulho. Mas ela raramente vinha vê-lo. Ele saía todas as manhãs e tardes e dava os seus passeios ou juntava-se com dois ou três amigos no parque atrás do prédio e suponho que conversavam sobre as suas vidas e os seus passados.
Encontrava-o com frequência à porta do prédio. Estendia-nos sempre a mão e cumprimentava-nos.
Fazia uma festa no cabelo do João.
- Olá João.
- Olá.
- João, dá um passou bem ao Sr. Simões.
E a mão envelhecida apertava a mão pequenina.
Outras vezes encontrava-o de pijama e chinelos a deitar o lixo no contentor .
Já sabia que ele estava muito doente. Estava muito magro e o seu rosto estava mais triste.
Mas quase todas as manhãs, depois de tomar o pequeno-almoço e o café, enquanto fumava o meu primeiro cigarro à janela, às oito da manhã, via cair uma grande quantidade de pão ralado do segundo andar.
O Sr. Simões alimentava os pombos do bairro. E eu nem gosto de pombos mas vou sentir saudades de ver o pão a cair todas as manhãs.
Obrigada Sr. Simões, por todos os passou bens!
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
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